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terça-feira

Diário de Bordo III - Personagens: Tia Nalba.


Na Favela do Japão, o confronto não é apenas com armas.
É no olhar, no argumento, nos recursos que só a mente feminina possui.
Mães, avós, irmãs, amigas, ativistas, traficantes.
Erinalba, moradora da comunidade há 18 anos, é a principal articuladora local. Chegou do interior, com seus filhos, e foi morar na favela, pelas circunstâncias. As mesmas circunstâncias que lhe deram forças para reagir. Criou seus filhos sozinha, na máquina de costura. Percebeu que outras mulheres tinham também suas dores, sofriam caladas, e as crianças cresciam sem algumas referências importantes, como por exemplo, o pai.
O marido de Tia Nalba envolveu-se com drogas e com  o tráfico. Praticava roubos nas piores fases para manter o vício. Apesar do desequilíbrio, da desordem e do impacto que ele provocava na família, ela reagia, com os valores inversos, de amor, de força, de cuidado. Dentro de casa ela aprendeu o valor de ser articulada.
Nas entregas de suas encomendas, aumentava o contato com as vizinhas e seus filhos. Com o passar do tempo, esses meninos a procuravam, para lhe pedir conselhos. Alguns, já no crime, contavam com ela para ter alguma orientação para vida.
Passou a receber pessoas necessitadas em sua casa. Ajudava os que vinham do interior para a cidade.
Sua casa passou a ser uma referência. Todos ali a procuravam, desde conselhos, até abrigo e comida.
Cooperava, como voluntária, nos projetos que eram realizados para a comunidade. Até que foi contratada e trabalhou, por 8 anos, na Visão Mundial, organização protestante, voltada para ações humanitárias.
Quando o projeto acabou, em 2006, ela manteve sua casa de portas abertas, mesmo não podendo comprar para todos o que antes podia.
Hoje, as crianças da Favela do Japão não andam pelos becos. Nem em Lan Houses. Elas tem um costume, de acordar, ir pra escola, e na volta, ir pra "Casa".
Lá, encontram outras crianças, moradores, voluntários dispostos a dar aulas de reforço. A Casa está sempre aberta.Na visita que fiz, uma das salas da casa estava ocupada por uma família que está passando uns dias lá, porque teve a luz cortada em casa. Para entrar na Casa, é só bater palmas no portão. Alguém virá, e você estará em casa. A alegria é presente. Muitas crianças e adolescentes, cuidando uns dos outros, sempre com olhares curiosos para os novos que chegam.
Essa Casa, bem que podia ser pra sempre.
E a Tia Nalba, bem que podia ser chamada Mãe.

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