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Diário de Bordo II - Natal

Kelly Lima, ativista na favela do Japão, onde o tráfico é controlado por mulheres. E a resistência também.

Segundo dia de trabalho, Domingo de Páscoa.
Natal é uma cidade nova. Pelo menos, essa é a impressão que tenho ao cruzar a cidade, Zona Sul -  Zona Norte - Zona Oeste.
O setor imobiliário está em crescimento, em uma hora, vi 12 condomínios residenciais enormes (no padrão de SP) sendo construídos por toda cidade. Em 2014 haverá Copa também aqui, a cidade está fervilhando em alguns setores.
No litoral, dezenas de prédios de luxo foram erguidos de 3 anos pra cá.
O "Minha Casa, Minha Vida", aqui, constrói unidades em regiões de classe média, para a classe média, em regiões desenvolvidas. Diferente do Rio, em que o projeto prioriza regiões de favela.
Não existe o número de favelas como temos no Rio. E uma estranha estratégia: As favelas estão sendo "escondidas". Cercadas por grandes construções, muros e viadutos.
Em Natal, é comum encontrar pessoas que tenham 2 carros. As pessoas se endividam para comprar pickups, Land Rovers, e lançamentos. Há facilidades de financiamento, as pessoas compram, mas excedem comprando mais de um carro.
Os taxistas reclamam que é muito raro fazer corridas que tornem a profissão sustentável.
O tráfico de drogas é fraco diante do que observamos no Rio, mas as vendas aumentam a cada ano, pela presença cada vez maior de turistas.
É vendido muito solvente, cola, crack e pessoas com mais dinheiro compram cocaína. Maconha é bastante consumida, em regiões específicas do Litoral, como a Praia da Pipa, no sul.
Quem compra o pacote de turismo na Holanda, já pode incluir uma prostituta.
O turismo sexual e infantil é notório e aberto.
Muitas meninas, a partir dos 12 anos, já entram no circuito.
Na favela do Japão, onde tenho feito visitas, o tráfico de drogas é controlado por mulheres.
Mulheres se confrontam, do lado do bem e do mal.
Há mulheres controlando o tráfico e a favela, e há mulheres realizando bravamente projetos para crianças, jovens, mulheres e homossexuais.
Considerando que estão inseridas numa cultura muito machista, e são mulheres de favela, sofrem muito na defesa de seus objetivos.
Na favela do Japão, onde existe um alto índice de crime relacionado ao tráfico e também a presença de prostituição infantil, Kelly Lima, moradora da favela, estudante de Ciencias Sociais na UFRN, cujo pai é dependente químico, com dois filhos e sem marido, mantém - como voluntária - um projeto com mais de 42 crianças na sua comunidade, iniciado por sua mãe, Erinalba, mais conhecida como Tia Nalba.
Tia Nalba, desde que chegou na favela há 18 anos, abre sua casa para a comunidade. Pais, mães, traficantes, todos a procuram para ter conselhos, ou passar um tempo em sua casa, ela é uma "mãe social".
Elas são apoiadas pela Igreja Batista Viva, mas esse apoio não é suficiente. Foi nessa igreja que acompanhei uma apresentação de alunos do projeto, interpretando trechos da Paixão de Cristo.
Se articulam com padres e outros agentes sociais.
As "mulheres do tráfico" já são objeto de estudo de monografias na UFRN.
Curioso que, com mulheres no comando, o tráfico é menos violento, e o embate entre os dois lados é mais aguçado.
Mulheres versus mulheres.
Conversei com Kelly e sua mãe por quase 2 horas.
Amanhã, fotos e a história delas. Porque fazem, porque acreditam, apesar de.
Feliz de saber que temos pessoas trabalhando intensamente em todas as favelas, histórias que não imaginamos, histórias comoventes, em todo lugar, favela é sempre favela.
Boa noite, amigos e amigas.
Salve a mulher nordestina.

Um comentário:

  1. ESSA É NOSSA REALIDADE, SOMOS PESSOAS QUE LUTAM PARA TER UM DIA CADA VEZ MELHOR. PARABÉNS PELO O BELÍSSIMO TRABALHO. E NÓS SEGUIREMOS EM FRENTE.

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