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sexta-feira

Batalha do Conhecimento

(EN Diary)
MC Marechal é uma lenda do HipHop brasileiro.
Há anos, realiza o HipHop Improv Battle, para profissionais e iniciantes no rap.
Apoia os novos talentos, divulga cultura e uma mensagem de paz e respeito a diversidade.
Ontem à noite, foi realizado mais um HH Improv, com rappers de todo Rio de Janeiro, e também de várias favelas.



















The Troll Activist 1

(EN Diary)

quinta-feira

Ah, realidade. Não enche.

(In English)

Tirada em frente de uma agência do banco, onde não sei (e pouco importa) por Eliza Schinner, musicista carioca.

Original:

quarta-feira

Refundar, ou morte.

(In english)

Com uma boina na cabeça, único e simples adereço, sobe ao palco o tímido José Cláudio Ribeiro, conhecido como Zé Cláudio, ativista paraense, aplaudido e reconhecido pelo público presente no TEDxAmazônia. E faz-se silêncio para ouvir o homem da floresta.
Por alguns minutos, caminhamos no discurso e na mente de alguém que fez escolhas movido por convicções baseadas em razões absolutamente plausíveis, dados e informações que qualquer um de nós pode obter através de institutos de pesquisas ambientais.
Porém, Zé Cláudio parece mais profundamente movido por um tipo de paixão. Paixão pela terra, pelo patrimônio do mundo, o verde, as águas, os bichos, pelo justo, pela convivência harmônica com a floresta.
Desprovido de vaidades, Zé era um homem da terra. Cidadão comum,  mas de notória militância, num lugar onde ser militante pela terra é assinar o óbito.
E foi isso.
Como num ato pró-forma, como o instinto de uma fera, o Pará mostra para o resto do país qual é o fim de qualquer pessoa cujo discurso seja livre, cujos sonhos sejam verdes, cuja vida seja devota.
O Pará tem se alimentado de sangue. Bebe, lambe no copo, chupa nos dedos, o sangue dos poucos que se insurgem, que provocam a reflexão, que questionam a exploração demonizada e demonizante, quando o ser humano desrespeita a terra, e se torna desprezível, pior dos seres.
Para o discurso que contrói um novo caminho, a resposta é a bala de pistoleiros covardes, que ocultam um outro ainda mais covarde.
Não só no Pará, mas no Brasil a  vida parece não valer nada e o povo do Pará tem, com toda razão, medo; as fortes conexões do poder econômico e a máquina do Estado impossibilitam qualquer chance de justa punição, especialmente no nosso sistema judiciário, abarrotado de vícios, com possibilidades de livrar um assassino pelos intermináveis recursos que podem ser impetrados.
Mal lamentamos a morte de Dorothy Stang, cujo mandante do assassinato foi absolvido (1), temos que amargar mais uma desnecessária perda.
Será a morte de Zé Cláudio um recado? E o Congresso, é capaz de entender esse recado? O que vimos ontem, na votação do novo Código Florestal? E Dilma?
Simão Jatene, governador do Pará,  anda mais preocupado com a divisão do estado, que vai enriquecer ainda mais por anos os grandes exploradores.
Quem vai prender os pistoleiros? A PM de salário de fome, facilmente comprada por pouco dinheiro, que algema pessoas em rodas de mobilete (2), como se faz em Natal?
Quem vai julgar o mandante do assassinato de Zé Cláudio? O judiciário aleijado que condenou Pimenta Neves, mas o deixou livre por 11 anos?
Quem manda aqui? Quais tem sido as inúteis preocupações dos congressistas? Fazer cena por causa de Palocci? É só Palocci que enriquece? Sarney Filho e ACM Neto são o quê? Franciscanos? 
O Brasil não sabe exatamente quem é, e quem exatamente quer ser no futuro.
Zé Cláudio é morto, com ele um pouco da nossa já fragilizada dignidade.
Minha mente protestante me faz lembrar da história do primeiro homicídio. Caim, que matou Abel. Então, responde cinicamente à Deus, quando este pergunta "Caim, onde está teu irmão? O sangue dele clama a mim desde a terra." E a resposta ao primeiro homicídio inaugura a mentira: "Acaso sou eu o guarda do meu irmão, Senhor?" 
Assim caminhamos. Com nossa terra embebida em sangue de inocentes que gritam e cobram de nós uma resposta, que bem poderia ser a refundação da nossa história, a recriação do Judiciário, o repensar da nossa relação com a terra.
Refundar esse país. Ou morte. De Zés, de Chicos, de nós.

Lamento pela família dele. Há pouco, fiquei sabendo que uma pessoa com quem trabalhei havia entrevistado Zé para um programa, e foi ontem a noite ao Pará, para ver e entender de perto o que aconteceu.
Sofro por muitos lados. Sou ativista. Sei que muitas vezes se paga com a vida, e, enquanto vivo, se paga com exclusão, desdém e humilhação por parte de outros "ativistas", ou a falta de recursos e pouco ou nenhum espaço na mídia. Também tenho amigos ativistas em outros estados, alguns vivendo em situações de risco. Sei como é complicado ter uma vida segura quando o discurso vai de encontro à interesses maiores. Por esses dias, eu fui aconselhado a mudar algumas configurações no meu perfil nas redes sociais que uso, e ainda assim, sei sou observado e monitorado por alguns "amigos". 

Zé Cláudio entra para uma galeria de pessoas que morreram pelo que acreditavam. As causas, os tempos e as pessoas mudam. A vontade e a paixão não. Seja Che, Luther king, Ghandi, Doroty, Chico Mendes. Todos, sem exceção, mortos pelo que pregavam e viviam.
Salve, Zé Cláudio e sua memória.

"As ávores são minhas irmãs." Zé Cláudio. (1958-2011)



domingo

Tapa na Pantera.

Maconha.
Particularmente, penso que, se existem pessoas dispostas a passar por tudo que passam para garantir o direito de fumar um enroladinho, é porque, no mínimo, esse enroladinho deve ser bom bagarái.
Mas, vamos falar de direitos, não do enroladinho.
Afinal, mesmo sendo proibido por lei federal, não adianta nada. Geral fuma.
Acontece que - essa é minha opinião - assim como qualquer tema que envolvam liberdades e direitos individuais nesse país, a maconha, ou o direito de usá-la, precisa ser discutida seriamente, o que não acontece no Congresso, e não pode acontecer no Judiciário ( como aconteceu com a união estável entre pessoas do mesmo sexo ), porque o objeto da discussão seria juridicamente nulo - já que é tipificado como ilícito penal.
Daí, temos o furdunço. Maconheiros de um lado, felizes, relaxados, mas putos da vida porque não podem comprar em tabacarias, legalmente, fumar com tranquilidade, ou mesmo plantar sem medo de serem felizes; e do outro lado temos: a sociedade desinformada, pouca ou nenhuma informação científica confiável, deputados cagões, as leis, etc. Fora a indústria do álcool, do tabaco, e, também aplicados à esse caso: Bolsonaro e Malafaia, que não perderiam isso por nada.
Mas, no caso da Marcha da Maconha de ontem, em São Paulo, acredito que houveram excessos e precipitações.
Primeiro, que a sociedade não entende a causa. Portanto, é muito provável que se oponha à Marcha. Não houve diálogo com a sociedade sobre o tema e, na verdade, é complicado fazê-lo, pois é preciso certa coragem para suportar os efeitos da exposição. Depois, que a PM de São Paulo não brinca em serviço. Sabemos disso. Desde a OBAM, eu penso que o significado da palavra "pragmatismo" encontra seu refúgio mais seguro e cruel nas fileiras das milícias paulistas. Exemplos não faltam. Carandiru é o que me vem na mente agora, mas teriam outros.
Portanto, a PM de SP baixa a madeira na rapaziada. Diferente da PM do Rio, que - tô chutando - talvez fosse menos dura. Até porque, Tartaruga Touché é menos tensa que o colega Alkmin em alguns temas.
Ou porque aqui no Rio o foco é outro.
E também houve excessos, ou pelo menos, cafonices desnecessárias por parte dos seguidores de Marley. "Abaixo a repressão" é um clichê brabo, pior que qualquer jargão de Zorra Total. Não tem repressão não. Tem é falta de argumento, de idéias, de projeto. A máquina repressiva do Estado vai reagir pró-forma.Tá na lei, mané. Caozô, malandro ripa. Bezerra já dizia.
Parece que a rapaziada não tinha muita clareza do que estava fazendo ali, e qual seria a reação num processo de choque e crise.
Em suma, gastaram os 3 minutos de fama repetindo gritos de guerra obsoletos, estranhos, e perderam uma chance.
Lembra do Planet Hemp?
Fizeram um barulho danado. Fizeram também a discussão avançar alguns centímetros.
Acho que, ao invés de Marchas em ruas, conflitos físicos e porradaria generalizada, a batalha deveria ser bárbaramente travada no campo das idéias.
Somente.
E garanto, que no campo das idéias, a rapaziada da erva leva vantagem sobre a força.
Tomara entendam isso.
E eu não fumo. Nem me preocupo quem fuma.
Minhas preocupações hoje são outras. As consequências do tráfico nas comunidades pobres.
Tenho as minhas teses. Mas, tudo, tudo, pode ser resolvido na idéia.THC, digo (rsrs) FHC defende isso.
Puxa forte, prende, e queima a mufa. Não só o beck.
Uma idéia boa, muda o mundo.
 

quinta-feira

Para não esquecer de Natal.



E ouvi hoje cedo no Boechat ( Band News FM ) que o salário hora nas ETECS e FATECS que o Geraldo Alkmin trombeteia como as meninas dos olhos de SP, é de R$10,00.

O sujeito tem nível superior e especialização e ganha 10 reais por hora. Melhor ser traficante. Ou analfabeto, e deputado federal, como o Tiririca.

terça-feira

Depois de Natal, São Paulo.


De Natal ainda não publiquei nem um terço do que tenho de material. Prometo que ainda virá.
Semana passada estive em São Paulo, visitando, na cara dura, agências de publicidade e profissionais do marketing.
Decidi que vou levar adiante, no Rio, a criação de uma agência de publicidade especializada na Classe D. E a contrapartida disso será a capacitação de pessoas para o mercado publicitário e produção de conteúdo.
Bem, é importante ter um sonho. Esse é o meu.
Fui na Band, encontrar Marcelo Tas. Um dos caras mais respeitados quando o assunto é redes sociais.
O papo durou 40 minutos. Falamos de pessoas que estão pesquisando a Classe D, de novas estratégias de inclusão no mercado, da Dharma, os primeiros insights.
Vamo em frente.

A música, o batuque e a vida que segue.

Nasci crente.
Tá certo que nunca fui um bom exemplo de crente, no entanto, é bem verdade, já vi piores.
Me tornei crítico de tudo vindo da igreja evangélica quando percebi as montanhas de dinheiro que entravam, dia após dia, nas congregações. E nada, absolutamente nada era feito pra mudar a realidade das favelas - onde muitas igrejas tem seus templos.
Na década de 80 era um tal de "vamos mandar ofertas pra África", como se a Maré não existisse, o Juramento fosse um condomínio de luxo e a Rocinha fosse a Vieira Souto. Tanto dinheiro pra África e nada pra cá.
Com a explosão do mercado fonográfico evangélico, fiquei num dilema: Ouvia? Não ouvia? Anos passaram e vieram as toneladas de repetições, exaustivas, do que chamam de Adoração, Adoração Extravagante, Louvor Profético, e seus derivados intermináveis. 
Me dediquei a ouvir um cara de Campinas chamado João Alexandre. Eu era músico de igreja e precisava de referências. Ele, Jorge Camargo, Guilherme Kerr, todos traziam música de qualidade e temas que me fariam pensar sobre minha ética cristã com a sociedade por toda juventude. Música "linha-dura", de uma "esquerda" evangélica.
Passei ao largo de tudo que Line Records, MK, e outras gravadoras evangélicas fizeram nos últimos 20 anos.
Até que um dia, em Vigário Geral, conheci Fernanda Brum. Digo, conheci pessoalmente, porque já conhecia o som dela, e seu marido que, na adolescência. frequentou por pouco tempo a mesma igreja batista que eu frequentava, em Madureira.
Achava Fernanda radiofônica. Música de rádio, chiclete. 
Numa manhã em Vigário, me aparece ela conhecendo o trabalho do Grupo Cultural AfroReggae. Na mesma manhã que conheci uma de suas produtoras, Rebeca Kessler. 
Já tinha um conceito sobre ela, e a achei mais exótica ainda. Uma roupa colorida, um cabelão, naquele calor.
É estranho conhecer alguém, depois de ter feito por anos uma imagem. É curioso ver que as pessoas podem ter mais a dizer do que o que você pensa. E no fundo, é disso que são feitos os relacionamentos.
Olhei nos olhos dela e nos falamos por alguns minutos. 
Terminei meu almoço, calado, pensando se realmente sabia quem era ela.
Só não explicar, até hoje, porque achei Fernanda tão diferente do que pensava. Ela não parou pra me dizer: "Dinho, linha-dura. Eu sou legal." Nem leu teses sobre como a igreja evangélica deve se aproximar das realidades sociais. Ela não fez nada. Apenas conversou.
Senti uma coisa boa. E foi só. Talvez fosse esse o sentimento que alguns tinham no passado, ao conhecer certo homem de quem tanto se falava. Apenas estando perto dele pra saber. Penso que, como pessoa inserida dentro desse contexto de cristianismo, talvez tenha passado por uma experiência semelhante.
O tempo passou, e até onde pude fazer parte desse clipe, convivi com uma pessoa que sempre me chamava atenção. Fernanda é simples. Fala do ser humano, não como um fã, ou comprador de seus discos. Quando a ouvi falar da crise no Complexo em novembro de 2010, vi uma pessoa, de verdade, indignada. Não correspondia ao esteriótipo de cantor evangélico. Também, não me parecia ser uma personagem. A palavra de Fernanda é muito objetiva, seu pensamento muito claro, ela conhece e sabe bem onde a igreja poderia atuar mais, onde o terceiro setor poderia aprender mais. 
Daí, depois de um tempo, comecei a achar que ela poderia falar mais sobre isso.
Mas ela fala cantando. Esse é seu papel.
A vida nos levou pra rumos diferentes. Infelizmente, não pude ir nas gravações do clipe. 
Ao ver as imagens, algumas perguntas que faziam anos que moravam na minha cabeça, foram respondidas. Ver Fernanda em Vigário, no Complexo e na Selaron me deu uma paz muito grande. Há pessoas que ainda se importam. Existem pessoas que pensam no agora, so invés de se embebedar com o Paraíso. Que olham para o lado, ao invés de fechar os olhos em sua adoração. Que se fazem brasileiros, não cópia "gospel" do que os americanos enlataram. Que levam milhares de olhares para a favela, onde trabalho, não sei se bem ou mal, mas trabalho. E trabalho porque acredito, sequer pago minhas contas com isso.

Talvez nenhuma mensagem tenha me impactado tanto nos últimos anos. Torço para que as pessoas vejam, para que a igreja se posicione, que o Jesus cheio de compaixão que pregam venha a favela, não para pedir mas, para dar. 

Já vi e vejo ainda muita coisa na vida, difícil até mesmo de relatar. Mas, sou feliz por ainda conseguir ver a profundidade de mensagens como essa. De uma cantora além do microfone. De uma música além do batuque. Da vida, que segue, espero, para dias melhores.

Parabens, Fernanda, Emerson, Kessler. Pelo menos a minha vida, se vale alguma coisa, vocês alcançaram.
De coração, Deus abençoe.