(In english)
Com uma boina na cabeça, único e simples adereço, sobe ao palco o tímido José Cláudio Ribeiro, conhecido como Zé Cláudio, ativista paraense, aplaudido e reconhecido pelo público presente no TEDxAmazônia. E faz-se silêncio para ouvir o homem da floresta.
Com uma boina na cabeça, único e simples adereço, sobe ao palco o tímido José Cláudio Ribeiro, conhecido como Zé Cláudio, ativista paraense, aplaudido e reconhecido pelo público presente no TEDxAmazônia. E faz-se silêncio para ouvir o homem da floresta.
Por alguns minutos, caminhamos no discurso e na mente de alguém que fez escolhas movido por convicções baseadas em razões absolutamente plausíveis, dados e informações que qualquer um de nós pode obter através de institutos de pesquisas ambientais.
Porém, Zé Cláudio parece mais profundamente movido por um tipo de paixão. Paixão pela terra, pelo patrimônio do mundo, o verde, as águas, os bichos, pelo justo, pela convivência harmônica com a floresta.
Desprovido de vaidades, Zé era um homem da terra. Cidadão comum, mas de notória militância, num lugar onde ser militante pela terra é assinar o óbito.
E foi isso.
Como num ato pró-forma, como o instinto de uma fera, o Pará mostra para o resto do país qual é o fim de qualquer pessoa cujo discurso seja livre, cujos sonhos sejam verdes, cuja vida seja devota.
O Pará tem se alimentado de sangue. Bebe, lambe no copo, chupa nos dedos, o sangue dos poucos que se insurgem, que provocam a reflexão, que questionam a exploração demonizada e demonizante, quando o ser humano desrespeita a terra, e se torna desprezível, pior dos seres.
Para o discurso que contrói um novo caminho, a resposta é a bala de pistoleiros covardes, que ocultam um outro ainda mais covarde.
Não só no Pará, mas no Brasil a vida parece não valer nada e o povo do Pará tem, com toda razão, medo; as fortes conexões do poder econômico e a máquina do Estado impossibilitam qualquer chance de justa punição, especialmente no nosso sistema judiciário, abarrotado de vícios, com possibilidades de livrar um assassino pelos intermináveis recursos que podem ser impetrados.
Mal lamentamos a morte de Dorothy Stang, cujo mandante do assassinato foi absolvido (1), temos que amargar mais uma desnecessária perda.
Mal lamentamos a morte de Dorothy Stang, cujo mandante do assassinato foi absolvido (1), temos que amargar mais uma desnecessária perda.
Será a morte de Zé Cláudio um recado? E o Congresso, é capaz de entender esse recado? O que vimos ontem, na votação do novo Código Florestal? E Dilma?
Simão Jatene, governador do Pará, anda mais preocupado com a divisão do estado, que vai enriquecer ainda mais por anos os grandes exploradores.
Simão Jatene, governador do Pará, anda mais preocupado com a divisão do estado, que vai enriquecer ainda mais por anos os grandes exploradores.
Quem vai prender os pistoleiros? A PM de salário de fome, facilmente comprada por pouco dinheiro, que algema pessoas em rodas de mobilete (2), como se faz em Natal?
Quem vai julgar o mandante do assassinato de Zé Cláudio? O judiciário aleijado que condenou Pimenta Neves, mas o deixou livre por 11 anos?
Quem manda aqui? Quais tem sido as inúteis preocupações dos congressistas? Fazer cena por causa de Palocci? É só Palocci que enriquece? Sarney Filho e ACM Neto são o quê? Franciscanos?
O Brasil não sabe exatamente quem é, e quem exatamente quer ser no futuro.
Zé Cláudio é morto, com ele um pouco da nossa já fragilizada dignidade.
Zé Cláudio é morto, com ele um pouco da nossa já fragilizada dignidade.
Minha mente protestante me faz lembrar da história do primeiro homicídio. Caim, que matou Abel. Então, responde cinicamente à Deus, quando este pergunta "Caim, onde está teu irmão? O sangue dele clama a mim desde a terra." E a resposta ao primeiro homicídio inaugura a mentira: "Acaso sou eu o guarda do meu irmão, Senhor?"
Assim caminhamos. Com nossa terra embebida em sangue de inocentes que gritam e cobram de nós uma resposta, que bem poderia ser a refundação da nossa história, a recriação do Judiciário, o repensar da nossa relação com a terra.
Refundar esse país. Ou morte. De Zés, de Chicos, de nós.
Lamento pela família dele. Há pouco, fiquei sabendo que uma pessoa com quem trabalhei havia entrevistado Zé para um programa, e foi ontem a noite ao Pará, para ver e entender de perto o que aconteceu.
Assim caminhamos. Com nossa terra embebida em sangue de inocentes que gritam e cobram de nós uma resposta, que bem poderia ser a refundação da nossa história, a recriação do Judiciário, o repensar da nossa relação com a terra.
Refundar esse país. Ou morte. De Zés, de Chicos, de nós.
Lamento pela família dele. Há pouco, fiquei sabendo que uma pessoa com quem trabalhei havia entrevistado Zé para um programa, e foi ontem a noite ao Pará, para ver e entender de perto o que aconteceu.
Sofro por muitos lados. Sou ativista. Sei que muitas vezes se paga com a vida, e, enquanto vivo, se paga com exclusão, desdém e humilhação por parte de outros "ativistas", ou a falta de recursos e pouco ou nenhum espaço na mídia. Também tenho amigos ativistas em outros estados, alguns vivendo em situações de risco. Sei como é complicado ter uma vida segura quando o discurso vai de encontro à interesses maiores. Por esses dias, eu fui aconselhado a mudar algumas configurações no meu perfil nas redes sociais que uso, e ainda assim, sei sou observado e monitorado por alguns "amigos".
Zé Cláudio entra para uma galeria de pessoas que morreram pelo que acreditavam. As causas, os tempos e as pessoas mudam. A vontade e a paixão não. Seja Che, Luther king, Ghandi, Doroty, Chico Mendes. Todos, sem exceção, mortos pelo que pregavam e viviam.
Salve, Zé Cláudio e sua memória.
"As ávores são minhas irmãs." Zé Cláudio. (1958-2011)
Brasil, terra sem lei, pq lei que existe desde 1940 cheia de remendos já furados, anda mal das pernas procurando casa de repouso por não ter como se sustentar em pé, é nessa lei que governantes safados e interesseiros se baseiam dando legalidade a quem realmente vive à margem da sociedade cometendo crimes como esse de um tal Zé quem, Chico quem, Dorothy da onde??! Porque é assim que eles são chamados pelos algozes quando "se metem" onde não são chamados. Infelizmente o Pará hoje retrata o que acontece em todo Brasil!
ResponderExcluirA Floresta chora! Acabamos de perder mais um revolucionário defensor de nossas florestas! Gostaria do contato de alguém da família do Zé. Somos da Dom Camisetas, nós quem produzimos essas boinas do Che e gostaríamos de prestar uma homenagem em nosso site a esse povo que luta por todos nós nessas terras imensas e distantes!
ResponderExcluirwww.domcamisetas.com.br