RIO
Na noite do dia 5 de julho, no auditório da ESPM Rio aconteceu o encontro Juventudes Brasileiras, realizado pela ESPM e Globo Universidade. A série de encontros mensais, realizados no Rio e em São Paulo, tem como objetivo a troca de experiências entre pesquisadores e jovens, abordando temas relacionados à juventude brasileira na primeira década do séc. 21.
Moda, comportamento, conhecimento e carreira, são assuntos na pauta dos próximos encontros (ver programação completa aqui), o Diário de Um Ativista foi conferir o encontro que tratou do tema: Jovens e Relações Afetivas, com a participação do antropólogo e professor da PUC-Rio Roberto DaMatta, a psicóloga clínica Laura Muller, o sociólogo e professor do IESP/UERJ Carlos Antonio da Costa Ribeiro e o jornalista e professor da ESPM Jean Wyllys, deputado federal pelo PSOL/RJ e representante no Congresso de movimentos sociais LGBTT.
O ponto de partida do debate foram as questões que permeiam os relacionamentos sociais e familiares nos últimos anos, provocando reflexões cada vez mais freqüentes nos meios acadêmicos, na mídia, nas conversas do dia a dia.
Bulliyng, relações homoafetivas, adolescência extendida e as novas configurações familiares foram os temas que nortearam o debate, iniciado pelo prof. Carlos Antonio, que apresentou uma breve análise do comportamento populacional de homens e mulheres brasileiros nos últimos 30 anos, com informações sobre o papel da mulher no mercado de trabalho, liderança corporativa e na família e novos papéis que exercem no mercado consumidor e na sociedade e uma análise comparativa nos mesmos indicativos com o público masculino.
Com um foco mais voltado para o indivíduo, o antropólogo Roberto DaMatta abordou os temas a partir da perspectiva da pessoa, utilizando de fontes existencialistas, como Schopenhauer, e indicando as implicações e as conseqüências de todas as mudanças sociais começam e terminam nas leituras individuais, no plano das escolhas, margeando abordagens psicanalíticas.
Os estudantes David Micahel, Carla Viana e Sabrine Vin participaram, compartilhando suas histórias e experiências, uma vez que eles são o público-alvo do debate.
Jean Wyllys e Laura Muller contribuíram com suas abordagens integradas aos assuntos abordados pelos estudantes, Jean mudou sua fala inicial para se dedicar aos assuntos que foram apresentados pelos jovens “eu tinha preparado um discurso, uma fala, mas achei muito interessante o que foi dito aqui por esses jovens e prefiro interagir para contribuir de forma mais precisa no encontro” afirmou.
O momento para perguntas do público foi uma das partes mais intensas do encontro. Com perguntas direcionadas a todos os integrantes da mesa, os convidados puderam abordar temas transversais como a singularidade de algumas questões no relacionamento homoafetivo e as garantias sociais e civis que envolvem os grupos LGBTT.
Algumas perguntas eram pontualmente definidas sobre o papel do indivíduo com a realidade que o cerca, e não relacionadas a grandes sistemas e conjunturas sociais, mas a busca por orientações mais pessoais. DaMatta foi perguntado sobre assuntos relacionados a fé, a crença e os valores que o sistema religioso muitas vezes propõe para a pessoa e como articular isso na pós-modernidade. “Na verdade, não estamos finalizados, estamos sempre mudando, sempre estaremos incompletos. Precisamos dialogar com a realidade permanentemente” disse DaMatta, em resposta ao público.
Jean Wyllys foi questionado pelo Diário de Um Ativista, sobre a implicação desses temas sobre os jovens das periferias, muitos homossexuais, que sofrem por sua condição sócio-econômica, por serem moradores de favelas, pretos, submetidos à preconceitos oriundos de grupos religiosos majoritários nas perfiferias, e com pouco acesso a informação qualificada sobre direitos de minorias.
Em resposta, disse que desde o início de seu mandato, e na verdade antes, pois o mandato é conseqüência de sua militância nos movimentos sociais das minorias LGBTT, tem se dedicado a ouvir, em cada estado, demandas de grupos ligados a esses movimentos a de uma forma geral, demandas relacionadas aos Direitos Humanos, tema presente nas pautas das reuniões que freqüenta, dentro e fora do seu partido, a quem pertence Marcelo Freixo, que esteve presente no debate Favela, Cultura e Cidadania, coberto pelo Diário de um Ativista >> AQUI.
Jean lembra que veio da periferia e que tem registros claros na sua história pessoal dos problemas que hoje são levados ao seu gabinete, razão pela qual dedica quantidade substancial de tempo para articular-se com lideranças e pessoas que trabalham por novas conquistas.
No fim do encontro, uma jovem pediu a palavra para dizer que não via a necessidade de existirem pautas que incluíssem grupos GLBTT com representação na mídia, como forma de luta social, pois não enxergava isso no seu dia a dia. O que ela vê são homossexuais aceitos e bem sucedidos na sociedade.
Ao responder, Jean afirma que essa realidade de fato existe, mas como ilhas na sociedade. Que provavelmente essa conjuntura é decorrência de outros fatores, mais observados nas classes A e B, e por pessoas mais jovens, que não experimentaram o preconceito na década de 1980 “quando a Parada gay era composta por 300 pessoas, que sofriam xingamentos, e as pessoas jogavam água do alto dos prédios”, mas que ainda existem muitas pessoas no país que ainda vivem diariamente com preconceito e ações violentas, para além da bolha de segurança que a jovem provavelmente vive – ainda bem.
“Quantos anos você tem?” perguntou Jean
“18”, disse a jovem.
“Logo vi.” disse, com o sorriso aberto, daqueles que conhecem a luta, mas não perdem a ternura.